;
23 maio, 2024
Não há como negar que, em nossa sociedade, o ritmo das mudanças é realmente acelerado. Afinal, há apenas alguns anos, quem poderia imaginar que veríamos coisas como a chegada da inteligência artificial, a proliferação do carro elétrico e a expansão do trabalho remoto, que transformou a maneira como muitos de nós vivemos e trabalhamos?
Porém, junto com essas mudanças, outra evolução vem acontecendo, infelizmente talvez de forma não tão acelerada, mas ainda bastante notável: a revolução silenciosa da bicicleta, que cada vez mais faz parte do cotidiano de muita gente.
Afinal, se há algumas décadas uma bicicleta na rua era vista como uma intrusa, com muitos motoristas fazendo questão de “punir” o ciclista propositalmente com sustos, finas e buzinadas, hoje em dia esse tipo de ocorrência é cada vez menos comum. Isso porque, atualmente, a bike já faz parte da paisagem de muitas cidades no Brasil, e isso é ótimo por diferentes motivos.
Você já teve a impressão de que, normalmente, quem anda de bicicleta costuma ver mais ciclistas na rua do que quem não pedala? Se sim, essa percepção de que muitos motoristas não “enxergam” os ciclistas tem nome e sobrenome. Trata-se da “cegueira desatencional”, que acontece quando alguém não consegue ver alguma coisa que está plenamente visível, simplesmente pelo fato de ser algo inesperado, que ela não está acostumada a ver.
Esse efeito foi avaliado por um estudo realizado na Austrália e, segundo os pesquisadores, “olhar e não ver” acontece porque nosso cérebro precisa processar muitas informações durante a condução de um veículo e, por isso, precisa decidir o que é ou não importante. Infelizmente, se a pessoa nunca subiu em uma bike, os ciclistas acabam ficando no fundo dessa “lista”.
Porém, diferente do que acontecia há alguns anos, pessoas de bike na rua são cada vez mais comuns, e isso acaba aumentando a segurança para todos. Além disso, até pouco tempo atrás, encarar o trânsito apenas com a força dos pedais era algo restrito apenas a ciclistas mais dedicados, algo que mudou muito de um tempo para cá.
Atualmente, com a proliferação das ciclovias e das bicicletas elétricas, é comum ver pessoas “comuns”, que jamais usariam a bike como meio de transporte e sequer praticam o ciclismo como atividade física, realizando suas tarefas diárias a bordo de uma magrela.
Para que fazer ciclovias se ninguém anda de bicicleta?
Com certeza, este ainda é o pensamento de muita gente. Mas, neste caso, já está bem claro que o caminho é o contrário, ou seja, é preciso criar a estrutura para que as pessoas pedalem.
Prova disso são cidades como São Paulo, que viram o número de ciclovias e ciclistas aumentarem bastante nos últimos anos. Afinal, pouco antes da virada do milênio, a estrutura era praticamente inexistente e, hoje, a maior capital do país tem quase 750 km de vias exclusivas ou compartilhadas para bicicletas. Assim, o número de viagens diárias de bike foi de 155 mil no ano 2000 para cerca de 400 mil em 2023, e isso traz muitos benefícios para a sociedade.
Afinal, existem inúmeros estudos que ligam o uso da bicicleta a melhorias na saúde mental e na física, como este trabalho realizado pela Universidade de Edimburgo, que aponta uma redução de 15% na probabilidade de ter problemas de saúde mental em quem anda de bike, ou este outro publicado pelo Jornal Britânico de Medicina, indicando que quem vai de bike para o trabalho tem 46% menos chances de morrer por problemas cardíacos e 45% de chances de morrer por câncer.
Com isso, além de melhorar a qualidade de vida da população, a bike ainda é uma ferramenta que reduz a pressão no sistema de saúde. Não é à toa que, em muitos países do mundo, o governo oferece subsídios para que as pessoas comprem bicicletas, inclusive as elétricas.
Além disso, ao contrário do que muita gente acredita, inúmeros trabalhos comprovam que a implementação de estrutura cicloviária é boa para a economia local, sendo um ótimo incentivo para as lojas de rua.
Em 2012, por exemplo, a cidade de Nova York passou a investir bastante na ampliação de sua rede de ciclovias, depois que um levantamento indicou um aumento de 49% nas vendas nos locais onde elas foram implementadas, contra apenas 3% no restante da cidade. Na pior das hipóteses, como indicou este estudo recente realizado em Cambridge, implementar ciclovias não tem um efeito negativo nas vendas.
Com certeza, a popularização da bicicleta elétrica é outra grande aliada no crescimento do uso da bike na cidade, mas também da segurança do ciclista. Afinal, um dos maiores riscos para o ciclista é a diferença de velocidade entre a bike e os demais veículos – até mesmo por isso, boa parte dos acidentes acontece no momento de uma ultrapassagem mal calculada.
Atualmente, até mesmo modelos de entrada, como a Oggi Big Wheel 8.0 2024, oferecem potência suficiente para encarar qualquer desafio diário, com autonomia o bastante para ir e voltar do trabalho, do mercado ou da academia.
Ao passar os olhos nas notícias relacionadas à implementação de estrutura cicloviária, não é difícil notar uma constante repetição dos temas. Em cidades em que a estrutura já está consolidada, a introdução de uma nova ciclovia raramente é fonte de notícia ou polêmica – afinal, ao menos naquele local, a gestão pública e a maioria da população já entenderam as vantagens da bike.
Porém, em locais onde essa mudança ainda está acontecendo, existe uma parcela da população resistente à mudança, basicamente sempre com os mesmos argumentos: mais bikes na rua vão gerar mais acidentes, prejudicar o trânsito e o comércio.
Por isso, além dos argumentos a favor da bike que você leu acima, é importante lembrar de detalhes como este este estudo da Universidade do Colorado, que relaciona a implementação de ciclovias a uma redução no número de acidentes fatais, mesmo levando em conta o aumento do número de ciclistas, ou este outro de uma Universidade na Austrália, indicando que a implantação de ciclovias ajuda a reduzir os congestionamentos.
Por último, mas definitivamente não menos importante, é fundamental lembrar que o Código de Transito Brasileiro traz, logo em seu início, a seguinte observação:
“O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito”.
Portanto, além de ser bom para a sociedade como um todo, investir na bike, em ciclovias e na segurança do trânsito é também uma obrigação do poder público de sua cidade – para manter a revolução da bike acontecendo.